top of page
Search
heptagrama

A tecnologia arcaica ainda toma o pulso do Oceano

Updated: Jan 4, 2020

de Cathleen O'Grady


No inverno de 2013, uma massa de água quente começou a se espalhar pelo leste do Oceano Pacífico. A bolha causou pânico e caos na vida marinha. Filhotes de leão-marinho passaram fome, gaivotas morreram e as pescagens de salmão sofreram.


Ajudando a desenredar esta bagunça está o Gravador Contínuo de Plânctons (CPR), um maquinário antigo que utiliza de rolos de seda e tecnologia para fabricar relógios do séc. 18 para tomar amostras de plânctons na superfície do Oceano. Inventado na Inglaterra em 1922, o desenho da máquina CPR foi refinada nos anos 20, e foi deixada mais ou menos sem mudanças desde 1929. Desde então, a pesquisa CPR, um projeto correntemente baseado em Plymouth, na Inglaterra, tem usado estes dispositivos para tomar fotos dos pequenos organismos que formam os plânctons do oceano.


Tais gravações de longo termo tornam possível tracejar os efeitos dos eventos oceânicos como a Bolha, diz Sonia Batten, que está usando os dados destes dispositivos para entender como plânctons no Pacífico Norte foram afetados pela onda de calor marítima. Se ninguém sabe como o plâncton parecia antes de uma onda de calor, é impossível rastrear mudanças. E para ter uma comparação correta ao longo do tempo, os dados precisam ser coletados usando o mesmo método até o final. "Seu entendimento só é bom quanto a base que você tem" diz Batten.


Cada dispositivo de CPR, os quais foram centenas com o passar dos anos, são um contêiner em forma de torpedo, metrados e de aço, que abrigam longas tiras de seda e podem ser sirgadas em qualquer navio. Enquanto a tripulação dispõe o dispositivo no oceano, um propulsor começa a girar nas águas agitadas, levando um mecanismo que desvencilha os rolos de seda. Correntes de água passam por um pequeno buraco na frente do torpedo, e a seda prende o plâncton. Um segundo rolo de seda então completa o sanduíche de plâncton que preserva a amostra para análise.


Cada rolo de seda de 457 centímetros leva 926 quilômetros para desenrolar, capturando uma amostra do plâncton de superfície. A pesquisa original CPR, que começou em 1931, sucedeu dezenas de rotas de embarcações no Atlântico. O resultado é uma biblioteca de centenas de milhares de amostras, mantidas pela pesquisa CPR em Plymouth. Em alguns casos, estes registros são tão antigos quanto a data de 1946, quando amostras foram primeiro guardadas para análise posterior. Desde que a pesquisa CPR começou, outros projetos usando a tecnologia surgiram, cobrindo partes dos oceanos Pacífico e Índico, o Mediterrâneo, e partes do Oceano do Sul pela Antártica e Austrália.


Compreender o plâncton é essencial para estudar como a vida oceânica é mantida, diz Carin Ashjian, um ecólogo de plânctons que não é afiliado com nenhum dos projetos CPR. Por instância, diz ela, grandes, gordos, e suculentos zooplânctons tendem a prosperar na água gelada. Então o que acontece quando uma onda de calor oceânica acompanha?


Baseado nos dados do CPR, Batten pode então dizer que o tamanho médio do plâncton no nordeste do Pacífico diminuiu durante os anos da Bolha. Mas, ela adiciona, ainda há um mistério a resolver porque plânctons encolhidos não parecem explicar os dramáticos efeitos observados no ecossistema do nordeste do Pacífico, já que ainda existiam muitos plânctons sobrando na água, apenas de espécies diferentes.


Os efeitos da Bolha em mamíferos e peixes podem ser resultado de comida de baixa qualidade ao invés de escassez, explica: "se você não comer nada a não ser aipo o dia todo, não se sentirá muito satisfeito." Os plânctons menores de água mais morna podem não ter o mesmo impacto nutricional quanto os grandes e gordos plânctons de água fria, deixando os animais nutricionalmente estressados até em águas cheias de plânctons. Mais pesquisa clarificará se a intuição está correta.


Apesar da importância de ter uma base sólida e de longo termo de monitoração, é fácil negligenciar, porque seu valor pode ser apenas aparente com retrospectiva, diz Batten. "Todo mundo pensa que é importante, mas é difícil tornar este projeto apoiado até que algo aconteça e estas pessoas queiram os dados." Mas o seu valor vem de manter um dedo no pulso quando não há desastre, porque ninguém sabe quando os dados serão repentinamente necessários. "Não tenho idéia do que o próximo ano trará", diz ela. "Ninguém previu a Bolha."


A história da tão continuada pesquisa CPR é tumultuosa. Depois que a pesquisa teve pico em 1970 quando 5506 amostras foram coletadas, seu escopo começou a contrair nos anos 80 enquanto o financiamento do governo do Reino Unido para projetos de monitoramento oceanográfico de longo termo foi cortado porque os administradores consideraram os projetos de monitoração ambiental "ciência baixa", escreveu um grupo de pesquisadores CPR em 2005. Em ultima análise, a pesquisa foi temporariamente desligada em 1989.


Uma operação de resgate rapidamente surgiu, e uma nova fundação de caridade, a fundação Sir Alister Hardy para ciência oceânica, nomeada por motivo do inventor do CPR, foi fundada para realizar a pesquisa. Em 1990, a pesquisa CPR foi movida para sua localidade atual em Plymouth. Mas os anos recentes trouxeram outro choque para a instituição de caridade. A pesquisa CPR foi forçada a suspender algumas rotas de embarcações e reduzir o seu quadro de funcionários em 1/3 e em 2018 foi assimilada pela Associação de Biologia Marinha em Plymouth.


A capacidade da pesquisa CPR de resurgir pode se dever ao fato de que os custos de manutenção são baixos. Mandar navios de pesquisa, ou até mesmo colocar um pesquisador em um navio, é caro, diz Batten. Mas a máquina mecânica que pode ser jogada na popa de um navio, sem eletrônicos complicados, é muito menos custosa. "Não é nada belo, quando retorna, todo amassado e arranhado, mas funciona e funciona bem." diz ela.


A pesquisa CPR tem um orgulhoso registro científico, com seus dados alimentando centenas de papéis sobre o aquecimento global, biodiversidade e sustentabilidade. Mas existem limitações para o que estes dispositivos arcaicos podem prover. A máquina CPR pode apenas coletar dados da superfície do oceano, deixando as profundezas inacessadas. E a confiança do método em navios voluntários o sujeita a contingências de rotas comerciais. Mas seu registro de longo termo, diz Ashjian, é realmente valorável, e a tecnologia arcaica ainda completamenta técnicas modernas como a fotografia rápida e a amostra acústica, que estudam o oceano sem capturar nenhum plâncton físico. "Se você quiser saber de que espécie algo é, ou até em que estágio de vida está, ainda é necessário pegá-lo." diz ela.


Mesmo que pesquisadores agora estejam ligando equipamentos mais avançados às máquinas de CPR, como os sensores de temperatura, o desenho original esta destinado a ser levado em frente indefinidamente. "Ainda necessitamos inventar algo eletrônico que possa fazer a mesma coisa" diz Batten. "É difícil aprimorar."





10 views0 comments

Recent Posts

See All

Comments


bottom of page