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Nunca subestime a inteligência das árvores

de Brandon Keim


Considere uma floresta: perceba os troncos, claro, e o dossel. Se algumas poucas raízes se projetam artisticamente por sobre o solo e também as folhas cadentes, também é possível perceber, mas com um pouco de pensamento, uma matriz que pode se espalhar tão profundamente e largamente quanto os galhos acima. Fungos não registram a não ser para alguma aspersão de cogumelos, estes são considerados isoladamente, ao invés de como as pontas de frutificação de um vasta treliça subterrânea entrelaçada com estas raízes. O mundo sob a terra é tão rico quanto o acima.


Pelas últimas duas décadas, Suzanne Simard, uma professora no departamento de florestas & conservação da Universidade da Columbia Britância, estudou este subsolo pouco apreciado. Sua especialidade é a micorriza: a união simbiótica de fungos e raízes há muito conhecida por ajudar plantas a absorver nutrientes do solo. Começando com experimentos de divisa descrevendo como o carbono flui entre bétulas de papel e abetos de Douglas, Simard descobriu que micorriza não simplesmente conecta as árvores à terra, mas umas às outras também.


Simard foi mais longe ao mostrar como as árvores ligadas por micorriza formam redes, com indivíduos que ela nomeou Árvores Mãe em um centro de comunidades que estão, por sua vez, ligadas umas as outras, trocando nutrientes e água em uma literal teia pulsante que inclui não apenas árvores mas toda a vida de uma floresta. Estas compreensões têm implicações profundas para o nosso entendimento da ecologia florestal, mas este era apenas o começo.


Não são apenas os fluxos de nutrientes que Simard descreve. É comunicação. Ela, e outros cientistas que estudam raízes, e também sinais químicos e até os sons que as plantas fazem, enfiaram o estudo das plantas no domínio da inteligência. Ao invés de autômatos biológicos, eles podem ser entendidos como criaturas com capacidades que em animais são imediatamente reconhecidas como aprendizado, memória, tomada de decisão e até mesmo agência.


Isto pode ser difícil de compreender. Plantas não deveriam ser inteligentes, pelo menos não de acordo com a rúbrica das tradições conhecidas como o pensamento ocidental. Também há um caso em que, enquanto estes comportamentos são, de certo, extraordinários, eles não mapeiam puramente no que as outras pessoas comumente entendem por aprendizado, memória e comunicação. Talvez tentar definir o comportamento das plantas de acordo com os nossos conceitos estreitos arrisca obscurecer o que é único sobre sua inteligência.


É um debate rico e fascinante, um que não será respondido sem que hajam muitas outras pesquisas. E esta pesquisa deve ser conduzida com a mente aberta para a possibilidade de que as plantas tenham mentes. Disse Simard ao Nautilus de seu escritório na Universidade da Columbia Britância sobre os horizontes do seu trabalho.


Para continuar a linha de raciocínio, poderi me dizer sobre a hipótese de cérebro raiz de Charles e Francis Darwin?


Atrás de uma ponta de raiz crescente está um monte de células diferenciadas. Darwin pensou que estas células determinavam ao as raízes cresceriam e colecionariam. Ele pensou que o comportamento de uma planta era basicamente governado pelo que acontecia nestas células.


O trabalho que eu e outros estivemos fazendo, observando a afinidade em plantas, como elas se reconhecem e se comunicam, envolve as raízes. Exceto que agora sabemos mais do que Darwin sabia, sabemos que todas as plantas, exceto alguns maços de famílias, são micorrizas: o comportamento de suas raízes é governado por simbiose.


Não são simplesmente estas célular na ponta de uma raíz de planta, mas suas interações com fungos, que determinam o comportamento de uma raíz. Darwin percebeu algo. Ele simplesmente não observou toda a figura. E vim a pensar que os sistemas de raízes e as redes micorrizas que ligam estes sistemas são desenhados como redes neurais, e se comportam como redes neurais, e uma rede neural é a semeação da inteligência de nossos cérebros.


Você escreveu que o que torna as redes neurais tão especiais é a sua característica de escala livre, que redes de plantas também compartilham. O que escala livre significa? E por que é tão importante?


Todas as redes tem articulações e nodos. No exemplo de uma floresta, árvores são nodos e conexões de fungos articulações. Escala livre significa que existem alguns poucos nodos largos e muitos pequenos. E isso é verdade em florestas de várias diferentes formas. Existem algumas poucas grandes árvores e um monte de árvores pequenas. Algumas partes de largas terras de floresta de antigo crescimento, e então muitas das pequenas terras. Este tipo de fenômeno de escala livre acontece em várias escalas.


Você vê redes de escala livre ao nível de árvores individuais, também, nas interações dentro de um sistema de raiz única?


Eu não cheguei a medir isto, mas existem muitas coisas que poderiam ser procuradas. Por exemplo, o tamanho da raiz. Existem algumas poucas largas raízes que apóiam raízes menos e menos largas. Minha opinião é que eles seguem o mesmo padrão.


O que torna esta configuração tão especial?


Sistemas evoluem em direção a estes padrões porque são eficientes e resilientes. Se pensamos em uma floresta, e as redes que descrevi, este desenho é eficiente para transmitir recursos entre as árvores e como eles interagem uns com os outros. Nos nossos cérebros, redes de escala livre são uma forma eficiente de transmitir os neurotransmissores.


Há algo primariamente incrível sobre redes entre e por dentro de árvores terem propriedades semelhantes às redes de nossos cérebros. No caso dos nossos cérebros, entendmos que há algo sobre a estrutura destas redes que dá lugar a cognição. Quais são alguns exemplos de cognição em plantas?


Como se define cognição? Pergunto porque há um grande grupo de cientistas que diz que não deveríamos usar este termo porque significa muitas coisas.


Seria melhor se eu usasse a palavra inteligência?


Eu usei a palavra inteligência na minha escrita porque eu penso que cientificamente atribuímos a inteligência a certas estruturas e funções. Quando dissecamos uma planta e a floresta e olhamos nestas coisas. Existe uma rede neural? Há comunicação? Há percepção e recepção de mensagens ? Você mudaria os comportamentos dependendo do que você está percebendo? Você lembra das coisas? Você aprende coisas? Faria algo diferentemente se tivesse experienciado algo no passado? Todas estas são cunhas da inteligência. Plantas têm inteligência. Elas têm todas estas estruturas. Elas tem todas estas funções. Elas tem todos estes comportamentos.


Outra palavra que pode ser traquinas é comunicação. Eu definiria comunicação como qualquer troca de informação. Esse é um guarda-chuva bem grande; pode se aplicar, dizemos, a co-evolução da coloração de frutos e dos gostos de pássaro, tal que com o passar do tempo a cor da fruta se torne mais agradável aos pássaros e correlacione com propriedades nutritivas. Isto é comunicação, mas categorizamos que, diferentemente do que fazemos, os alarmantes gritos que os esquilos urra quando um gavião se aproxima, ou a conversa que eu e você estamos tendo agora. Aonde neste espectro a comunicação entre plantas se aplica?


Bem aí. E nós somos prisioneiros da nossa ciência ocidental. Indígenas são sabidamente cultos na forma em que plantas se comunicam umas com as outras. Mas mesmo na ciência ocidental nós sabemos que porque você pode cheirar os químicos de uma floresta em fogo. Algo está sendo emitido que tem uma química que todas estas outras plantas e animais percebem, e eles mudam, de acordo, o comportamento.


Colocando a ciẽncia nesse patamar de forma que aumente nossa própria percepção de que estas plantas estão se comunicando exatamente como nós. Não é apenas uma coisa vocal, mesmo que algumas pessoas estão, inclusive, medindo acústicos em árvores e percebendo que existem diversos sons que não podemos ouvir, e isto poderia ser parte de sua comunicação. Mas eu não sei o quão longe a pesquisa foi. No meu próprio trabalho, olhei para a conversa através da química.


Quando eu e você nos comunicamos, no entanto, independente se é por sons ou cheiros, ainda existem indivíduos envolvidos que têm modelos internos do mundo. É uma conversa entre indivíduos conscientes, ao invés de uma troca de informação que toma lugar sem conhecimento da informação que está sendo trocada. Este tipo de comunicação existe entre plantas? Eu não estou tentando reforçar algum tipo de hierarquia aonde um tipo de comunicação é melhor do que outro, mas entender as distinções.


Eu acho que o que você quer dizer é se há sentido nisto.


Um sentido, e também algum loco para receber e redirecionar este sentido. No mundo da inteligência animal, alguns filósofos agora falam sobre a pre-reflexão e o autoconhecimento. A idéia é que haja um coerente senso de si, um conhecimento de que você é você, que é possuído por todos os animais em virtude de seus sentidos e alguma capacidade de memória. O momento em que há percepção e memória, há um eu. Você acha que as plantas tem um eu que está fazendo este tipo de comunicações?


Estas são perguntas muito boas. Provavelmente a melhor evidência que temos, e tenha em mente que os cientistas têm olhado a humanos e animais muito antes de olhar plantas, é parentelo reconhecimento entre árvores e plântulas que compartilham o mesmo parentesco. Estas antigas árvores podem dizer quais plântulas são de sua própria semente. Não sabemos exatamente como o fazem, mas sabemos que existem ações muito sofisticadas que ocorrem entre os fungos associados com estas árvores em particular. Nós sabemos que estas antigas árvores estão mudando seu comportamente em formas que lhes dão vantagem sobre seu próprio parentelo. Então o parentelo responde em formas sofisticadas crescendo melhor ou tendo uma química melhor. Uma árvore-pai ou relacionada inclusive amtará sua prole se não estiver em um bom lugar para crescer.


O último exemplo, de uma árvore matando sua prole se as condições forem desfavoráveis, tocando no que eu queria dizer. A árvore sabe o que está fazendo? Há uma escolha? Pode a árvore escolher quando ou não providenciar carinho, e então em algum nível saber disto?


Nós realizmos o que chamamos de experimento de escolha, no qual temos uma árvore mãe, uma plântula, e uma plântula estranha. A árvore mãe pode escolher para qual prover. Descobrimos que ela proverá para sua própria prole ao invés de algo que não seja sua prole. Outro experimento é de uma árvore mãe estar doente e prover recursos para estranhos ao invés da prole. Não há diferenciação aqui, também. Como está doente e morrendo, ela provê mais para sua prole.


Fizemos muitos experimentos aonde ajustamos a saúde do doador, a árvore-mãe, contra a saúde do recipiente, a plântula, alterando os níveis de sombra ou nitrogênio ou água. Signfica qual condição cada uma delas está, elas podem perceber umas às outras, e estas decisões são feitas dependendo das condições. Se suprimirmos a saúde da plântula recipiente, a árvore-mãe proverá mais recursos que no caso contrário.


Concentramos então em uma coisa de via única ao invés de uma mão dupla. É difícl manipular e medir grandes antigas árvores, estivemos presos pelo absoluto tamanho das árvores e como respondem, como podemos manipulá-las e então medir suas respostas porque elas estão diluidas contra esta ordem maior de coisas que acontecem com elas. Eu acho que devemos fazer estes experimentos, parece loucura que não fosse uma percepção de mão dupla.


A árvore-mãe tem uma imagem mental de suas plântulas? Claro, uma imagem mental é um conceito bem específico aos animais. Mas será que existe algum constructo interno, seja como esteja representado? É a mesma coisa que ter uma memória das plântulas na forma em que eu tenho uma memória, digamos, do meu gato? Eu posso pensar sobre o meu gato agora mesmo que ele esteja em outro quarto, não porque o estou percebendo mas porque tenho um constructo mental dele.


Você pode olhar para os anéis de uma árvore. As interações com plântulas afetam os ritmos de crescimento; afetam quanta água e nutrientes são sifonados. As pessoas podem reconstruir isto e dizer "ah, este árvore vizinha morreu este particular ano, esta árvore foi desprendida". Nunca podem compartimentar estas respostas em certas partes do tronco da árvore. Diferentes plantas têm diferentes habilidades para fazê-lo, mas a memória está aninhada nos anéis de todas as árvores. Em coníferas, também alojam estas memórias na química de suas agulhas. Uma sempre-verde, por exemplo, manterá suas agulhas por 5 a 10 anos.


Na pesquisa em inteligência animal, tem havido por longo tempo uma ênfase, argumentativamente ainda existe, em formas de cognição não emocionais e não afetivas. Agora, mais e mais pesquisadores também estão estudando as emoções, e percebendo que essas outras formas de cognição, como a memória e a resolução de problemas e raciocínio, estão entrelaçadas com a emoção.


Se você tomar a neurobiologia que oculta nossas emoções para fora da equação, a resolução de problemas e o raciocínio não se desenvolvem. Com plantas, a maior parte da pesquisa que li tem sido sobre o entreaspas lado não emocional da coisa. Também há emoções em plantas?


Quisera eu soubesse mais sobre emoção e aprendizagem afetiva. Isto dito, vamos dizer que exista um grupo de plantas e tensione apenas uma, haverá uma grande consequência. Botanistas podem medir as respostas de serotonina. Eles têm serotonina. Também têm glutamato, que é um de nossos próprios neurotransmissores. Há um monte destes em plantas. Eles podem ter estas respostas imediatamente. Se nós pregarmos as folhas ou colocarmos muitos insetos nelas, toda a neuroquímica muda. Eles começam a mandar mensagens muito rápido a seus vizinhos.


Esta é uma resposta emocional? Acho que sim. Mas eu posso ouvir o lado botanista de mim dizer "Não é uma emoção, é apenas uma resposta." Mas acho que podemos desenhar estes paralelos. Recai na linguagem de novo, em como aplicamos esta linguagem para observar estas respostas em plantas.


Acho que soerguer esta abertura de comunicação é importante de forma que as pessoas percebam que quando você vai e retira a parte de cima de uma planta, há uma enorme resposta ali. Não é uma coisa benigna. Será está uma resposta emocional? Está certamente tentando se salvar. Regula positivamente. Seus genes respondem. Começam a produzir estes químicos. Como é isto diferente do que nós produzindo, tão de repente, um tanto de norepinefrina?


Existem coisas que não estamos enxergando nas plantas porque os nossos conceitos de inteligência são desenhados de humanos e animais? Poderiam haver formas completas de ser que não temos sequer palavras para.


Eu acho que existem essas coisas sim. Acho que somos tão utilitários com plantas e as abusamos até não poder mais. Acho que isso vem de usarmos vendas. Não procuramos. Simplesmente fizemos estas suposições sobre elas que são estas criaturas benignas que não têm emoção. Sem inteligência. Não agem como nós, então apenas as bloqueamos.


A outra coisa que vou dizer é que eu fiz essas descobertas sobre estas redes subterrâneas, como as árvores podem estar conectadas por estas redes fúngicas e comunicar. Mas se você for atrás e prestar atenção em alguns dos ensinamentos primitivos dos Coast Salish e dos indígenas na costa oeste da América do Norte, eles já sabem. Está nas escrituras e na história oral.


A idéia de uma árvore-mãe é antiga. As redes fúngicas, as redes subterrâneas que mantêm toda a floresta saudável e viva, também estão lá. Que estas plantas interagem e comunicam umas com as outras, está tudo lá. Eles chamavam estas árvores de povo árvore. Os morangos eram o povo dos morangos. A ciência ocidental se desfez disto por um tempo e agora estamos voltando.


Que outras relações são possíveis? O que significa se dar? Ser empático com o mundo vegetal?


Tẽm duas palavras que vêm a minha mente. Uma delas é responsabilidade. Acho que a sociedade moderna não sentiu responsabilidade pelo mundo das plantas. Então, ser guardião responsável é uma coisa. E também reobter o respeito, uma interação respeitável com estas árvores, estas plantas.


Caso já tenha lido Braiding Sweetgrass de Robin Wall Kimmerer, ela fala sobre como entrará na floresta para coletar algumas plantas para medicina ou comida. Ela pergunta às oplantas. É uma coleta respeitosa. Não é apenas, "ah, perguntarei à planta se posso ceifá-la, e se disser não, não o farei" É procurar e observar e ser respeitoso com a condição destas plantas. Acho que esta é a relação de ser responsável, não apenas para as plantas, mas para nós mesmos, e para as crianças e múltiplas gerações que vieram antes e que virão após.


Acho que este trabalho sobre árvores, sobre como se conectam e se comunicam, as pessoas o entenderão diretamente. Está fiado a nós esta compreensão. E não acho que será difícil para reaprendermos.























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